quarta-feira, 16 de julho de 2008

Quais as grades do subúrbio?







Já ouvi que a periferia é cult.
Já ouvi que a periferia é suja.
Eu acho que nascer no que chamamos de subúrbio é algum tipo ou espécie de privilégio.
Eu acho que se criar na rua, ou ainda, apreender a rua, te dá noções amplas, livres, que fornecem inclusive um certo conforto para deixar que as desigualdades, dentro e fora da gente, não caiam em contraste cego, numa total negação de algumas das partes.
Permite diálogo interno.
Permite percepção ampla e uma noção de auto-referência que te faz ver com olhos brandos o diferente.
Afinal, você se reconhece como diferente ao fundo difuso da afirmação quase subliminar de que todos são diferentes.
A diferença é que a rua te dá a noção concreta disto. De um concreto fluído, cinza com reflexos cor-de-arco-íris, após ser molhado pela água de alguma mangueira ou da chuva, é meio-humano.
Esta rua, esta periferia, este subúrbio do qual eu falo tanto.
Aquele de dias quentes (mesmo que nos termômetros digitais do centro da cidade constem temperaturas baixas), aquele quente, empacotado, embaralhado, descontínuo, como muitas vezes se fazem alguns dos meus eus-de-dentro. A favela mesclada, espelha lugares onde a idéia de liberdade, de tão livre, pode se perder... e sartreanamente se perde, ah...se perde!
A carência, a miséria, a força sobressalente, o outro lado que em si é natural, só não é bem visto por olhos engolidos por valores paralisados, por tanto lixo que o que a gente chama de cultura instituiu. Livre.
Às vezes preciso do subúrbio... deste subúrbio mesmo. Com as casas de janelas abertas e músicas das quais eu não gosto tocando alto... Eu havia desistido de entender porque preciso tanto do subúrbio...Daí, acabei entendendo...
A rua me deu uma noção tão minha que me faz reconhecer nela um dos meus abrigos certos, em meio a tantas incertezas e reticências...
Dos outros abrigos, talvez eu fale depois.

2 comentários:

Joanne Sometimes disse...

droga!
excluí os comentários... foi mal!

Mach (nicht) auf - por Fernanda S. disse...

huahuahuahuahua entrei aqui pra comentar e li seu comentário! Tô rindo muito! ahahuhauha!
Adorei esse texto, Jo! Aliás, adorei o blog todo ;)
B-jão!