Essa é em homenagem aos “velhos tempos” mais recentes do meu compasso existencial ...
"Miiiiiister Crowley"
Era pra ser apenas mais um dia de faculdade. Eu, aluna de 2º ano, cronicamente sonolenta – infindáveis noites de poucas horas dormidas – fossem por leituras, fossem pela net (saudades do ICQ!), ou ainda, fossem por conversas que a gente costumava chamar de ‘eu-tu’ nas mesas velhas de qualquer bar.
Foi aí que então, na aula de Desenvolvimento, surge a proposta da professora: Fazer um trabalho sobre uma ‘personalidade’ que já tivesse deixado este mundo e falar sobre a vida dela dando direcionamento à luz da teoria do desenvolvimento de alguns teóricos da psico, a serem escolhidos.
Pensamos, pensamos... Meu conhecimento sobre o Crowley era totalmente difuso por recortes de conversas ocultistas, curiosidades de internet ou pseudo-qualquercoisa do gênero, ou pelas músicas do Raul (sim...eu gosto), mais classicamente, da “sociedade alternativa” que tocava no carro de churros que passava na minha rua da Praia Grande.
Meu grupo da faculdade tinha a fama de fazer os trabalhos “diferentes” seja lá o q isso for... Mas, tudo poderia acontecer depois do parto de Reich ‘a la’ Macunaíma que fizemos em nosso primeiro seminário, ou da representação da descoberta da traição da mãe do mesmo ao som de “Fuck Frankie”.
Fui pesquisar Crowley... e foi um período, digamos, estranho, de minha vida. Desde o nascimento de três cílios brancos em minhas pálpebras, até a suposta visita dele, o próprio Mr. Crowley, à calçada de minha casa em plena zona leste de SP. Mas... isso é outra história.
Foram várias aventuras, desde laços estabelecidos com membros de uma das ordens que têm thelema (a ‘filosofia’ difundida pelo bruxo) como pano de fundo, até encontros com tipos estranhos na noite (se bem que, em se tratando de Madame, isso vira pleonasmo) que tinham algum nível de envolvimento com o velho Crowley. Esses fatos se sucederam... passando por noites na minha casa, em que nós, grupo universitário, dividíamos o tempo entre fazer o tal do trabalho e encher a cara... foi numa noite dessas que tentei a proeza de abrir a garrafa de Chapinha, já aberta... sim... o clima de mistério estava no ar. Completando isso, surge minha entrada ‘do nada’ com a Re numa loja ‘mística’ da rua Maria Antônia no exato momento em que a dona do local falava sobre a gente (porque ela conhecia os membros da organização com os quais fizemos contato), mas essa história também é longa... Isso aconteceu numa das tardes em que eu e Renata ficávamos no Azaléia jogando damas, com tabuleiro e pecinhas confeccionados pela minha própria amiga. (A Re também tinha feito uma versão de ‘banco imobiliário’, que eu sempre desistia de jogar, por não ter aptidão pelos negócios dessa natureza).
Voltando ao tema: Aleister Crowley foi um ocultista britânico que nasceu na Inglaterra vitoriana...Não nego q a fama do bruxo não era das melhores, seu nome foi associado à rituais duvidosos, uso abusivo de drogas e outras ‘cositas mas’. Mas não sei porque ...(hahaha...sei sim!) eu me simpatizei com o Mega Therion (outro nome pelo qual era conhecido).
Crowley é sedutor... e eu não tô nem aí pros seguidores babacas dele... ou mesmo pros que não são babacas. Ocultismo não é minha praia, mas a parte, digamos, filosófica, de thelema, me atraiu, na época. Hoje acho meio pós adolescente dizer "Não há lei fora faz o que tu queres", mas não tenho vontade de negar partes minhas.
Até o Pessoa que também tinha uma veia oculta, trocou correspondências com Crowley, traduziu poesia dele (não sei se uma ou mais), e encobriu a simulação de suicídio do bruxo no episódio da ‘boca do inferno’. É curioso ler nos sites sobre o encontro entre Crowley e Pessoa. Os sobre Crowley falam de fascínio mútuo. Um, que eu lembro de ter lido, sobre Pessoa, refere que o poeta percebeu que Crowley era um “atormentado” (não lembro a palavra) e logo distanciou-se dele... Wathever... também não tenho a pretensão de saber o que aconteceu entre os dois.
Nosso mais-que-esperado seminário foi um sucesso. Nós, o grupo, somos “amigos de verdade” até hoje. Eu, Re, Lorão, Fezinha, Lizi, Daniel-daniel, Daniel-japonês. Saudades da época, acima de tudo...Atualmente cada um num canto do Brasil, mas sempre em contato, com exceção do Daniel-japonês que não sei qual universo paralelo percorre.
Como o Crowley, quando criança, tinha grande fascinação pelo apocalipse, resolvemos que os ‘artistas’ do grupo entrariam caracterizados pelos personagens que povoam essa parte da bíblia.
Ainda lembro da Lizi de mulher escarlate (super travesti!), e o Dani com uma bíblia na mão fazendo papel de “profeta falso” (detalhe é q a universidade era presbiteriana), além deles, lógico, a Lorão de dragão (!! – a fantasia mais ‘nada a ver’ da história da humanidade), a Renata com suas lentes brancas e tão secas que eu não sei como a vista dela agüentava, representando o Mr., e a decoração da sala com as velas em corredor... só pra fornecer uma atmosfera 'despretensiosamente' oculta no ar.
Pena q não deu pra rolar a Mr. Crowley do Ozzy... foi o único planejamento que não deu certo. Mas lembro q a trilha sonora tava cool... com a “musica das abelhas” do 2001 e a música que carinhosamente apelidamos de Fuóóóó, do ‘de olhos bem fechados’... .É... nosso grupo não tinha fama à toa... a gente sempre caprichava ...e vieram outros trabalhos trash/massa depois.
Falando nisso, lembro que , quando o Ozzy veio pro Brasil, Renata deixou uma mensagem na caixa postal do meu celular enquanto ele cantava Mister Crowley, pra eu ouvir, porque eu não fui ao show. Velhos tempos.... É, acho que não tem jeito, pra gente o tempo vai ser sempre velho.
Mas... acima de picuinhas ocultistas, das tentativas de se tentar encaixar o cara numa época específica, ou à frente do tempo, de taxar o bruxo como bom ou mau, ou como besta do apocalipse... eu, na interpretação que dei para toda essa história, penso que o anseio que Crowley carregava no seu peito oculto, deveria ser o anseio de todo e qualquer ser humano: Liberdade... liberdade para realização de sua vontade verdadeira, nada mais.
93! (hehehe)
quarta-feira, 23 de julho de 2008
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6 comentários:
É...velhos tempos...e muitas saudades...
Só no Santo Daime, hahahahaha
Nem me lembra daquele dia... Medo!
ainda bem q vc tava comigo, senão eu ia achar q alucinei, de verdade!
e pior...alucinação sem daime!
simplesmente adorei!!
me fez lembrar várias coisas paralelas ao trabalho de vocês!
saudades, né? :)
Mister Crowley rocks!
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